Pensei muito em minha querida vovó Quininha hoje. Às vezes, sem mais nem menos, uma lembrança dela me vem à mente e eu, assaz frequentemente, tento incorporar algo das atitudes dela na minha vida.
Ela estava um dia desses descansando na casa dela, uns tempos depois de ter feito uma cirurgia pequena, daquelas que não há necessidade de internação. Como um dos filhos e talvez algum neto, não me lembro bem, iria visitá-la em breve, ela resolveu ir para a cozinha preparar um dos seus maradeliciosos doces.
Minha vó sempre foi fã de sobremesas. Ela dizia que, se fosse pela sua vontade, só comeria doces e carnes. Sua especialidade culinária sempre foi mesmo tudo aquilo ligado ao açúcar. Uma receita de família que talvez se tenha ido com ela foi a água-na-bôquica fatia de Braga, uma das sobremesas que mais marcaram minha memória gustativa.
Voltando ao caso, ela se levantou e foi lá preparar o doce. Uma vez terminada a receita, ela disse à minha tia que iria se deitar mais um pouco, enquanto o prato esfriava. Ela foi então tirar um cochilo e nunca mais acordou. Morreu assim, como um passarinho (muito apropriado o ditado popular).
Depois de todo o susto e toda a comoção da morte, do velório e do enterro, nós todos fomos almoçar na casa de um tio e resolvemos, por unanimidade, comer o último prato que ela tinha feito, com tanto carinho, para nós.
E nunca houve uma sobremesa tão gostosa.