28 de dezembro de 2010

Virginia

A verdade é que nunca li a peça ou vi o filme Quem tem medo de Virginia Woolf?, mas esse título, presente na minha infância, já que minha mãe tinha o livro, hoje faz muito mais sentido pra mim.

Virginia Woolf é o tipo de escritor que sempre mexe com as ideias e noções de quem a lê. Com uma destreza incrivelmente sutil, a autora levanta questões sobre o ser humano e suas escolhas difíceis de passar incólume.


Lendo seus contos numa belíssima edição da Cosac-Naify, não pude me furtar de fazer considerações sobre os rumos que as nossas escolhas nos conduzem na vida. É tão fácil sermos levados pela rotina, ou pior, por nossas escolhas inflexíveis, que o questionamento - vindo de nós mesmos ou de outrem, torna-se mister.

É mesmo um pouco assustador perceber que os caminhos que criamos se transformam por vezes em buracos que cavamos e de onde não conseguimos sair.

A não ser pela crítica.

E pela terapia, muita terapia.

14 de dezembro de 2010

Compania

Vários dias passados com a presença constante de outras pessoas me fizeram relembrar do tanto que eu gosto de ficar sozinho.

Não é uma questão de pouca aprazibilidade, chatice ou encheção de saco por parte dessas pessoas, mas sim uma necessidade de organização mental que só se dá quando não há mais ninguém perto.

Mas, como já disse Björk lá nos anos 90:


As much as I
Definitely enjoy solitude
I wouldn't mind
Perhaps
Spending
Little time with you


Aqueles poucos (e bons) para quem eu dedico esse trecho devem se encaixar nesse 'you'.


Sometimes, sometimes



It smittens me with hope.

13 de dezembro de 2010

Take me to your inner city

Múltiplas são as explicações para o silêncio aqui; por isso me abstenho de postar justificativas.

Menos dramaticamente falando, eis aqui uma banda que caiu muito no meu agrado:


Hermanos Inglesos têm sido a trilha sonora perfeita para as minhas pseudoférias.

Que vença o repouso.

15 de novembro de 2010

Teorias sobre a prática

Muitos são aqueles que dizem que o passado está contido no presente, pois sem aquele não existiria este.

O que pouco se diz é como o futuro também está no agora - e não estou falando de planejamento.

No Budismo, a plena presença no presente é uma condição sine qua non para se libertar das amarras da existência. Essa ideia muito me apraz. Contudo, como fazer para pensar adiante sendo que o presente é tão imperativo?

Acredito que plantando e cultivando as ações cujas consequências estão enraizadas no presente momento. Ao meu ver, planejar não é viver fantasiosamente em ideias sobre o futuro (apesar de esse exercício mental ser de uma inegável gostosura), mas sim tornar o devir possível a partir do hoje.

(Wolfgang Tillmans)

Filosófico?

Não, prático mesmo.

9 de novembro de 2010

4

Arrependimento é a mesma coisa que culpa?

Ou é movido por ela?

Qual origina qual?

Como?

8 de novembro de 2010

Autoconvencimento

Há alguns anos, uma amiga, questionada por outra pessoa sobre a minha recusa a um convite feito logo antes, respondeu:

"Ele é muito voluntarioso!"

Tal palavra nunca tinha me passado pela cabeça para descrever a mim mesmo, mas confesso que ela caiu como uma luva.

Eu faço apenas aquilo que quero, quando sinto vontade de fazer.

Obviamente, isso não é em si de todo positivo. Ser governado pelas próprias vontades pode levar a um egocentrismo pouco agradável.

Como então transformei isso em algo mais palatável?

Descobrindo novas vontades. Às vezes me convenço de que devo fazer aquela coisa, pelo bem da flexibilidade, e aí o desejo de me tornar mais flexível me faz fazer algo que não faria se não tivesse pensado nisso.

Fez sentido? Para mim, sim.

4 de novembro de 2010

Releitura

As maiores decepções da vida são causadas por nossas próprias expectativas desmesuradas e, à medida em que amadurecemos, começamos a crer que o mundo fica mais real, menos pautado em sonhos desejudos.

Nem sempre.

Dennis Oppenheim - COMPRESSION-FERN


A fraqueza de um momento pode gerar dúvidas profundas, as quais, muitas vezes, nos conduzem a respostas fáceis - aquelas mesmas que já conhecíamos e que com frequência não se mostram as mais adequadas para novas questões que se impõem.

Profundo?

Não, bem real mesmo.

25 de outubro de 2010

Passado que apraz

Como otimista e antinostalgia que sou, nunca gostei muito de olhar para o passado em busca de inspiração. Ledo foi o meu engano, porque, como diria Leslie Feist: so much past inside my present. Não existe presente sem o passado - e não estou falando cronologicamente.

Quem sabe, ao invés de movimentação pelo repúdio, o passado não pode tornar-se uma fonte de renovação?

O retrô pode abrigar o moderno


12 de outubro de 2010

Silvicultura

O germinar da semente está a longos anos do florescer da árvore.

Pessoas com histórias difíceis muitas vezes não têm um único recurso ou ideia de
socorro a não ser aquilo que elas mesmas criaram para se defender. Em outras palavras, a única pessoa que elas aprendem a contar é com elas mesmas.

Uma estratégia de sobrevivência um tanto sábia e, no auge das dificuldades infantis, a mais madura. Entretanto, à medida que a infância vai se tornando adultez, a situação se reverte e, aquilo que uma vez foi atitude madura transforma-se em ações assaz egoísticas - com frequência chamadas imaturidade.


Otimista que sou, não posso deixar de notar que a maturidade é um processo em si. Não se nasce maturo ou imaturo; são as experiências que nos tangem que nos fazem, espera-se, lidar de maneira mais fluida com a vida.

A experiência também faz reconhecer e diferenciar aquilo que é adubo daquilo que é material para a poda.

Um pouquinho de reflexão ajuda também.

10 de outubro de 2010

4 de outubro de 2010

Dominação

Os adolescentes vão dominar o mundo. Arte após arte, moda após moda, os indivíduos com menos de 20 anos parecem exercer uma influência cada vez mais forte na nossa sociedade. O que antes era restrito à faixa etárias desse grupo passa a ser apresentado de maneira crescente a outros públicos. E estamos gostando?

Se depender do filme Eu matei minha mãe, de Xavier Nolan, minha resposta é sim. Escrito, dirigido e atuado pelo quebequense de 20 anos (18 à época das filmagens e 16 quando o script foi escrito), o filme trata da relação sufocante entre um adolescente em crise e sua confusa mãe, em choque com as ideias e necessidades do rapaz:


O filme ganhou vários prêmios, incluindo alguns em Cannes, e acaba de entrar na minha lista de favoritos de 2010 (apesar de ter sido lançado em 2009).


30 de setembro de 2010

Camões de hoje

Planejar é preciso, fritar não é preciso.

Executar é preciso, procrastinar não é preciso.

Pesquisar é preciso, acumular não é preciso.

Inferir é preciso, parodiar não é preciso.



E eu preciso seguir meus próprios conselhos.

25 de setembro de 2010

Operações matemáticas

É tão entristecedor perceber que as pessoas usam as ferramentas comunicativas da atualidade para autopromover a mediocridade.

Muita gente parece confundir acesso à informação com produção cultural. Não é só porque se obtém informação facilmente que se produz algo relevante, interessante ou inovador. Antes que absorver tudo, deve-se filtrar o todo. E isso é só o primeiro estágio.

Sem mais delongas, eis uma lista das coisas mais irritantes e mentalmente pobres que se veem por aí e aquilo a que elas NÃO EQUIVALEM:

  • Leitores de revistas de moda Propagadores de estilo
  • Detentores de câmeras digitais Captadores de imagens intrigantes
  • Baixadores de música DJs
  • Bonitinhos Modelos
  • Replicadores de frases feitas Escritores
  • Falastrões irrelevantes Formadores de opinião
  • Frequentadores de lugares da moda/cults Criadores de tendências



Que chatice.

23 de setembro de 2010

Ditado

Se tem uma frase que é verdadeira no mundo, principalmente nos dias atuais, ei-la:

Cabeça vazia é oficina do Diabo.

Os antigos sabiam das coisas, né?

20 de setembro de 2010

M de maduro



Ainda bem que a nossa experiência realmente serve para algo, não? Se não fosse a sabedoria, adquirida com a maturidade, de que as coisas se repetem e que por isso devemos aprender com nossos erros, o que seria do nosso bem-estar atual?

Hoje mesmo fui assaz sábio em controlar meu azedume em relação a uma pessoa próxima, cortando assim uma corrente de negatividades que podia nos ter atingido com muita força.

Ai, fiquei contente.

Alegrias que surgem do convívio.

18 de setembro de 2010

Yom Kippur

Se adaptar-me é preciso, às vezes faltam-me os meios.

Tendo um nível de concentração lamentavelmente baixo, para mim é extremamente difícil conseguir me dedicar a algo que exija a minha atenção quando há distrações em volta.

Claro, isso é algo de muito comum. O problema é que quase tudo me desconcentra. Música, televisão, pessoas conversando, o calor, tentações internéticas, barulhos aleatórios... Tudo é motivo para minha concentração se esvair.

Juro que tento me adaptar e forçar os pensamentos a se reunirem e as ações se concretizarem, mas esse trabalho é árduo.

Desejos destrutivos tomam conta de mim.

16 de setembro de 2010

De 2

A música eletrônica sempre teve um pezinho no pequenismo. Com algumas notáveis exceções, os projetos eletrônicos mais interessantes foram obra de poucos, às vezes de uns.

Acaso ou não, os duos eletrônicos costumam trabalhar muito bem. Duplas como as do Air, Daft Punk, Justice, Röyksopp e The Knife vêm há algum tempo mostrando que duas cabeças pensando e produzindo música são melhores que uma.

E há uma nova safra bem boa surgindo. Espia só:






Dois é bom e demais.

Publicado originalmente no SWAB.

14 de setembro de 2010

Trem de pensamento

Não é sem pesar que eu percebo que não ter nada para fazer não significa paz cerebral.

Tem vezes que a cabeça está tão ativa que até música se torna um objeto de obsessão pensamental. Eis que se lança a pergunta modernidade ou personalidade?




E mais pragmaticamente: como fazer para calar a mente?

Sei que existe meditação, mas se ela fosse um processo fácil, haveria muitos mais monges por aí.

Crê-se.


13 de setembro de 2010

Equações de tempo

Estou a cada dia mais seguro de que, se simplificar as coisas fosse tarefa fácil, a vida seria infinitamente mais simples.

Parece ser uma questão puramente matemática: as variáveis dificultosas são tantas e tão múltiplas que subtrair as distrações e encontrar a solução de um problema pequeno adquire proporções imensas.

Esses desvios contraprioritários são os maiores responsáveis por muito sofrimento por aí, mas, infelizmente, acertar no caminho requer reflexão, o que por sua vez requer tempo. E tempo é dinheiro.

Raros são aqueles capazes de se furtar das obrigações mais quotidianas para poder realmente pesar as escolhas e decidir pelo mais frutífero, ainda que menos lucrativo.

O acúmulo, seja de dinheiro, seja de obrigações, não parece mesmo ser a resposta de nenhuma das contas que se nos apresentam.

Se somente tivéssemos tempo para pensar sobre isso.


PS: Hoje é aniversário do meu amigo Adriano, my divine inspiration. Parabéns!


9 de setembro de 2010

Psicoterapia é o novo pilates

Numa escala de 0 a 10, creio que a importância de uma psicoterapia bem-feita para o bem-estar mental e social estaria perto do 11.


A mente sã não só reforça o corpo como constrói a casa.

8 de setembro de 2010

I S2 FL

Não acho justo que meus leitores lusófonos não compartilhem meu amor e admiração pelo mais bonito e interessante modelo brasileiro do momento: Francisco Lachowski.


Natural de Curtiba, Francisco começou a despontar no mundo da moda a partir de uma campanha da Dior.


Como resistir a esses olhos amendoados?



A beleza renascida.

29 de agosto de 2010

Erosão



Se construir qualquer coisa fosse tarefa fácil, qualquer estrutura ficaria de pé.

O problema é que: deslizes acontecem.

Soterra-se?



26 de agosto de 2010

Joãozinho

Para quem sempre gostou da voz de Jón Birgisson*, do Sigur Rós, mas nunca tolerou o mistério da banda, ou simplesmente queria vê-lo brilhar mais, ou sempre quis entender o que ele falava, eis que ele lança seu projeto solo: Jónsi.


Cantado predominantemente em inglês, esse trabalho é bem diferente da banda de origem, mais animado, mais barulhento, mais multiinstrumental.

Vale a pena visitar o site.

Muito me aprazem pessoas com múltiplas ideias.

*Site do projeto que Jónsi tem com seu namorado gay, Alex.

24 de agosto de 2010

caminho

Mais chato que se repetir é quando algo se repete porque não se consegue ver o padrão da repetição.

Antipsicanaliticamente falando, quando nos deixamos invadir por sentimentos de origem antiga e desagradável, seria de bom tom que soubéssemos ignorá-los, não?

Se viver e aprender andam tão juntos, porque a experiência não nos ensina a nos corrigirmos? Quisera eu saber responder.

Vendo por um olhar mais positivo, eis que me deparo com este filminho com uma música da Björk que achei bastante ilustrativo da importância da não-repetição:


Cada passo de uma vez, não é?

23 de agosto de 2010

Licença poética

CRIMINAL


What I need is a good defense
'Cause I'm feelin' like a criminal
And I need to be redeemed
To the one I've sinned against
Because he's all I ever knew of love

Heaven help me for the way I am
Save me from these evil deeds
Before I get them done
I know tomorrow brings the consequence
At hand
But I keep livin' this day like
The next will never come

Oh help me but don't tell me
To deny it
I've got to cleanse myself
Of all these lies till I'm good
Enough for him
I've got a lot to lose and I'm
Bettin' high
So I'm beggin' you before it ends
Just tell me where to begin

Let me know the way
Before there's hell to pay
Give me room to lay the law and let me go
I've got to make a play
To make my lover stay
So what would an angel say
The devil wants to know


17 de agosto de 2010

Forcinha

Que tal música para dar aquela força e animação que durem o resto da semana?


Digam o que disserem, mas essa onda launginha ainda me apraz sobremaneira. Os suecos do Air France levam a diversão musical tão a sério que produzem umas músicas (e remixes) tão relaxantemente delícia que dá vontade de viver nos seus clipes.

E dão ânimo para enfrentar possíveis tédios semanais.

14 de agosto de 2010

Intra-extra

Não sei se existe algo mais impressionamente delicioso que coincidências fortuitas.

Ao procurar imagens que refletissem um ideal de estilo para o presente momento, deparei-me com o trabalho de uma dupla de artistas que me marcou muito, mas cujo nome tinha ficado apagado em minha memória: Ari Versluis e Ellie Uyttenbroek:


Em seu projeto chamado Exactitudes, esses dois fotógrafos holandeses trabalham a estética de grupos, reunindo retratos de várias pessoas que pertencem a grupos (ou 'tribos' - termo que eu odeio) lado a lado. Sem muito alarde, o trabalho da dupla suscita reflexões a respeito da dicotomia semiinvisível da individualidade/pertença de grupos não majoritários de grandes cidades.

Alguém mais se lembrou de Lavoisier?

12 de agosto de 2010

Vontade seja feita

É um alívio quando podemos depositar a culpa de nossos erros em outrem, não é mesmo? Quando esse responsável se encontra tão longe que praticamente inexiste, então, é uma beleza.

A grande maravilha de crer em horóscopos e vontades divinas jaz justamente nesse interseção

entre as consequências e seus resultados desagradáveis. Se foram os astros ou Deus quem
mandou, que culpa temos?

O trunfo do horóscopo é que ele geralmente contém apenas indicações leves, positivas e gerais o bastante que quase não nos guiam. Com a sede por indenizações e ganância jurídica que existem por aí, os astrólogos não agem sem o devido respaldo advocatício das estrelas.

É tão fácil se eximir de responsabilidade que não custa nada para alguém culpar uma previsão por um crime.

Deus quis assim.


Imagem via Quarto de ideias

11 de agosto de 2010

Progredindo

Há bem pouco tempo levei uma "sentada" (aka pra-trás ou patada ou chamada de atenção) que me deixou tão horroroso quanto me serviu para acordar.

Caso o orgulho tivesse tomado conta de mim, não teria aproveitado a 'dica'. Entretanto, soube enxergar as minhas falhas e usei o episódio para me dar a força (também conhecida como 'vergonha na cara') para andar adiante.

Já em outras áreas, minha cabeça dura ainda não aprendeu. Quantas vezes vou ter que batê-la de frente para aprender a segurar os pensamentos? Espero que menos de 10 mil.

Hmmm... Evasão?


S'embora pra China numa das esculturas-balão de Jason Hackenwerth?


9 de agosto de 2010

Dica pra Segunda

Querem uma forcinha para começar a segunda em clima de alto-astral?

Recomendo o eletropop deliciosamente refinado de Sky Ferreira, minha nova ídala musical:


De modelo a cantora, Sky cria as maiores gostosuras musicais para deixar o dia leve e dar vontade de dançar.

5 de agosto de 2010

Telephone

Quando uma pessoa te liga, geralmente é porque ela quer dizer algo. Às vezes, e é com muita alegria que se recebe esse tipo de ligação, alguém querido liga para saber como vão as coisas, se saiu algum resultado que esperávamos ou simplesmente para saber como o dia foi. Uma delícia tais contatos, especialmente quando se vê que a pessoa realmente está interessada naquilo que dizemos.

Outras vezes, ligamos para alguém para trocar ideias, mas essas são muito difíceis porque se um dos dois não sabe muito bem ouvir ou não está aberto para opiniões alheias, um mal-estar se cria. É tão chato quando ligamos para alguém e essa pessoa não nos permite sequer abrir a boca, tamanha a logorreia. Muitas vezes acabamos desistindo de falar, derrotados pela profusão do papo. Claro, há aqueles amigos, sempre muito especiais, que veem o mundo de uma forma tão interessante e rica que o menor caso se torna uma narrativa muitissíssimo intrigante. Raros, esses.

Mas, na maioria das vezes, queremos mesmo é contar alguma coisa, partilhar alguma impressão. Nesses casos, é de muito bom tom, mesmo para aqueles que gostam de falar, perguntar (e querer ouvir) como a outra pessoa vai, o que tem feito ou, glória maior das amizades, inquirir sobre alguma coisa que sabemos ser importante para o outro.

30 de julho de 2010

Como detectar terapeutas homofóbicos

TODAS as pessoas que vivem na maior parte das sociedades, mas em especial, nas sociedades machistas de países em desenvolvimento, estão sujeitas a ideias homofóbicas. As visões e concepções predominantes são sempre carregadas de homofobia, pois as mesmas se baseiam em noções heterossexuais de sociedade como se elas fossem a única, ou como se fossem únicas em si mesmas.

Nesse imbroglio inserem-se, naturalmente, os psicoterapeutas. Ainda que munidos do suposto saber que igualiza as sexualidades, muitos desses profissionais são homofóbicos. E sem se dar conta.

Já ouvi de muitos psicanalistas e psicoterapeutas os maiores absurdos a respeito da homossexualidade. (O destaque veio para a incompreensão aguda de uma psicanalista em formação a respeito do travestismo, considerado por ela uma psicose com delírios de automutilação).

Como se assegurar, então, de que se está nas mãos certas? Averiguando através de algumas perguntas. Pergunte ao seu candidato a ou mesmo ao atual terapeuta:

1. Você já trabalhou com muitos homossexuais? Acho neles traços em comum?

Se ele responder em termos de psicopatologia, fuja, pois ele estará dizendo que não só inexistem traços individuais nas pessoas, como também que todos os homossexuais apresentam patologias psíquicas.

2. Qual é a causa da homossexualidade?

Se ele responder que há uma causa, abandone a terapia. A sexualidade em geral não tem causas, mas sim origens. Todas as pesquisas atuais acerca da sexualidade apontam para evidências multifatoriais para toda e qualquer tipo de orientação sexual. Não saber disso implica ignorância ou arrogância. Talvez ambas.

3. A terapia lida com os homossexuais como se eles fossem iguais aos hétero?

Por mais igualitária que seja a pessoa, as duas coisas não são equivalentes. Os homossexuais estão sujeitos a uma carga de pressão psíquica muito diferente daquela dos heterossexuais. Tratar os dois como sendo iguais demonstra que o terapeuta ignora necessidades específicas daquele grupo.

As respostas para essas perguntas serão fortes indicadores do nível de preparação do seu terapeuta para lidar com as questões relacionadas. Pode-se e deve-se trocar de psicoterapeuta caso esse não se mostre apto a tratar de questões importantes para o cliente.

Não se deve nunca aceitar a mediocridade.

Post inspirado pela leitura de A experiência homossexual, de Marina Castañeda.

28 de julho de 2010

Reforçando

Danuza Leão, uma das maiores gurus da alma humana, escreveu recentemente acerca da raridade e do prazer que são o simples fato de pensar. Criticamente, diga-se. Não sei como concordar mais com ela, mas adiciono as seguintes considerações:

Quem pensa desafia.
Quem pensa reivindica.
Quem pensa revela.
Quem pensa insiste.
Quem pensa recusa.
Quem pensa luta.
Quem pensa intervém.
Quem pensa lê.
Quem pensa se expressa.
Quem pensa muda.

O mundo.

27 de julho de 2010

Tributo

Cada vez mais acho que o melhor de viajar (especialmente passando muito tempo fora) é aprender a relativizar as cousas.

NADA visto de longe é igual.

Mudam-se as perspectivas, muda-se a vida.



Cada um que ache a sua viagem.


Ilustração ZSO.

23 de julho de 2010

Lugar oculto

Isso é muito raro, mas tem vezes que me pego dentro de um túnel, indo direto para a minha adolescência. Chato, né?

O pior é desenterrar aqueles erros bem bestas, assaz imaturos, que às vezes ressurgem bem inesperados.

Na hora do desepero, alembro-me dessa música, que muito me dá forças:


E espero que tudo nela se concretize na minha vida. Ai.

22 de julho de 2010

Recomenda-se

Culpo as semiférias pela falta de posts aqui. Não dizem que o ócio devia ajudar a criatividade? Há controvérsias.

No meio-tempo, estou lendo alguns livros não acadêmicos. Dentre eles:

Esse último, longe de ser uma estória de ficção científica com cobaias gueios e lésbicos, é um livro muitissíssimo bem-escrito que trata das diversas questões ligadas à homossexualidade. Há trechos sobre a família, a autoaceitação (ou as consequências de não fazê-lo), as relações dos gays e lésbicas separadamente e tudo mais que separa os homoeróticos, -afetivos e -ssexuais dos ditos héteros.

A parte que mais me pareceu interessante foi a que ela diz que para se tornar uma pessoa mais feliz consigo própria, o homossexual tem que fazer um luto da heterossexualidade. Esse luto compreende deixar para trás todas as suposições, planos e fantasias que lhe foram inculcadas desde sempre, haja vista que vivemos numa sociedade majoritariamente heterocêntrica.

Na minha opinião imparcial, o livro é incrível. Na minha opinião parcial, o livro é o melhor livro a tratar da homossexualidade nos seus apectos mais abrangentes de toda a história.

E o melhor, é superacessível.

19 de julho de 2010

Túnel do tempo

Como será que aquelas pessoas que ficam horas lendo, quietíssimas e concentradas no seu canto, passaram sua infância?

Eram ermitonas? Viviam distante? Não tinham amigos? Sempre foram introspectivas?

Com frequência, ao ler relatos e entrevistas com pessoas imaginativas que admiro, percebo que elas foram crianças levemente isoladas, geográfica ou socialmente, e por isso desenvolveram um mundo interior mais rico que o comum.

O que se passou com aquelas que se tornam devoradoras de livros e teorias?

Juro que queria saber. E aprender.

17 de julho de 2010

Escrito

Quem me conhece muitas vezes acha que eu sou bastante decidido e seguro das minhas opiniões. Bem, opiniãozudo eu sempre fui, mas decido e seguro das minhas escolhas já são outros quinhentos.

Até mesmo meu amor pela profissão que escolhi muitas vezes sofreu os abalos da dúvida. Questionamentos e indecisões se me infringiram diversas ocasiões.

A resposta, meus caros, veio de um lado tão absurdamente deslocado dos centros de crédito da humanidade que eu quase reluto em revelar. Ok, já desvendo: o horóscopo.

Piscianos, como eu, são sempre caracterizados como pessoas que vivem no mundo da lua, sonhando e fazendo fantasias. Pois bem, nunca concordei muito com isso até que parei para pensar que o meu mundo lunar - ou seja, um mundo desconexo do dia-a-dia, não era o mundo da fantasia 3D, mas sim o mundo da Teoria.

Teorizar sobre tudo é o esporte que mais calibra meu cérebro e ânimo. Tenho imensa facilidade e máximo prazer em exercer essa atividade.

O alívio gerado por essa constatação é inestimável. Talvez esteja hoje no ponto mais próximo da certeza que jamais imaginei.

Já sabem o que fazer então.

14 de julho de 2010

Convite

Se há um ditado verdadeiro, é este:

Quem espera sempre alcança.



Esperemos?

12 de julho de 2010

Energia para segunda

Umas das melhores coisas do universo é descobrir música nova do nada.

Avistei e já amei Kasper Bjørke, uma delícia norueguesa:


A Escandinávia nunca me decepciona.

9 de julho de 2010

U

Húmus.

8 de julho de 2010

O

O olho: o ovo; o toco: o oco.

7 de julho de 2010

I

Vim, vi, cri, vivi.

6 de julho de 2010

E

Ele vê e entende que ser é querer.

5 de julho de 2010

A

Palavra calada dada na sala pára cada passada falada na casa.

2 de julho de 2010

Tiroteio

A mudança é a arma que dispara o tiro contra o comodismo.

Preparar, apontar, atire!

Mas que essa bala passe longe de mim.

1 de julho de 2010

Tuitadinha II

Relapso!

24 de junho de 2010

Simpatia genérica para desmemoriados

A minha memória persono-visual nunca me valeu de muita coisa. É cada embaraço que eu passo por não me lembrar de pessoas que já vi, com quem conversei e troquei ideias biopsicossociolinguísticas que quase já me habituei a fazer papel feio. Ai.

Somando ainda a minha jecança mineiro-egípcia, estão lançados os dados para o jogo da antipatia impressionística. Aprendi na terapia que isso não é muito bonito, então tento me corrigir com bastante afinco; creio.

Para aqueles que sofrem do mesmo mal, dou aqui algumas dicas, em ordem mnemônica (rysos) de importância:

1. Ao chegar numa festa, cumprimente todos com igual cortesia e amabilidade. Se você não se lembra de ter conhecido um dos presentes, você fica de fofo meio tímido.
2. Se alguém mencionar seu nome, não se acanhe em fazer a velha com Alzheimer e dizer que se esqueceu do nome pessoa. Lembre-se que nunca é lá muito simpático dizer que não se lembra da pessoa. Esquecer nomes é mais socialmente aceito, ?
3. Aprenda a ligar o botão da íntima imediatamente. Fingindo ser melhor amigo de todos, sua gente-bondade será ao menos espalhada antes que te tratem de antipático.
4. Grude em pessoas fofas e simpáticas que se lembram de todos. Daí, quando a simpatia da pessoa explodir ao seu lado, você a capta nem que seja um pouco.

No mais é só ligar a cara de pau que quase sempre dá certo.

Acho que eu nem devo ser tão chato assim, porque ontem fiquei melhor amigo de um menino de 8 anos que estava numa festa a que fui. Quem faz sucesso com criança só pode ter um pouco de doçura, ?

23 de junho de 2010

Tuitadinha

Virando um escravo da Teoria.

21 de junho de 2010

Diga-se de passagem

Andei canalizando minhas ideias com bastante intensidade alhures, por isso faltei neste espaço.

Cada vez mais, acho que a maturidade às vezes se manifesta como falta de empolgação e/ou reserva caseira.

Mas não acho nada ruim; está-me sendo bem fácil aceitar tal fato.



É claro que sempre se corre o risco da adaptação ermitona, que é assaz perigosa no campo das relações humanas.

Como gosto sempre de fazer novos amigos - ao mesmo tempo que sou fidelíssimo aos antigos, vou mostrando a cara por aí.

Mas com parcimônia.

15 de junho de 2010

Quem sabe agora aprendo

Quanta esperança e otimismo há quando fugimos um pouco da realidade, não?

Nunca uma viagem foi tão repleta de promessas concretizáveis quanto essa última.


De quebra ainda dei uma acordada no coração; um soprão de hemoglobinas da alegria que há muito não sentia.

Mas, como já disse N. Khan, the dream of love is a two-hearted dream.

Um sonho de bicicletas.

4 de junho de 2010

Feriasinhas

Estarei parcialmente ausente até mais ou menos o dia 15/06.

Há muito por aí, no entanto.

Volto; com muito mais.

28 de maio de 2010

Prolongamentos: V


Não entregar tudo no dia seguinte é continuar o processo de sedução.

27 de maio de 2010

Prolongamentos: IV


Não organizar os livros após o estudo é continuar o êxtase intelectual.

26 de maio de 2010

Prolongamentos: III


Não lavar a louça após um jantar aprazível é continuar o sentimento gregário.

25 de maio de 2010

Prolongamentos: II


Não guardar uma roupa após usá-la é continuar o impacto do figurino.

24 de maio de 2010

Prolongamentos: I


Não escovar os dentes após uma refeição saborosa é continuar a delícia no palato.

21 de maio de 2010

Vindoura

Quem espera sempre alcança, diziam os antigos.

Eu mal posso esperar pelo disco novo de PJ Harvey, que há de ser lançado ainda este ano.

Enquanto isso, aqui vai uma prévia:


E já dá pra notar que a identidade visual dessa nova fase vai bombar no exoptismo aviário.

Assaz irresistível, não?

18 de maio de 2010

Telepatia


Ando meio desligado, meio desleixado e um pouco relapso aqui.

Inspiração, venha-me!


Ainda não funcionou.

15 de maio de 2010

Vi e quis

Sempre vi muito valor nas intervenções modais de Lady Gaga. Não é à toa que ela está aí à toda, né? O melhor é a força que ela vem dando às pessoas mais comuns para dar uma ousadinha no visual. Tá certo que tem muita gente errando feio por aí, mas alguns acertam. Eis um amigo meu:


Acessórios estão com tudo no meu mundo mental da moda.


Expandindo os conceitos mais um pouco:


Ah, tem também a desculpa do inverno para acessorizarmo-nos um pouco mais, né?

Gaga: Oh la la!

11 de maio de 2010

Santinspiração

Estou gostando tanto desta banda que até surpreso estou:


Saintseneca é o nome do grupo que, além de utilizar múltiplos instrumentos e ter canções com letras amigas, ainda tem um vocalista ruivo que balança corações. Ai ai.

10 de maio de 2010

Letrados

Com tantas facilidades de compartilhamento de informações, amizades se constroem, reforçam e desfazem - por motivos vários.

Caso haja a abertura e exposição, pode-se descobrir muitíssimo a respeito de qualquer um ao qual estejamos conectados.

Todavia, para o meu grande choque, percebi no final de semana passado que as modernidades comunicativas freiam uma pequeneza muito significativa no campo amical: reconhecer as caligrafias dos amigos.

Não é estranho você não conhecer a letra dos seus melhores amigos? Se algum deles um dia, por alguma razão mýstica, quiser enviar-lhe uma carta, será que você reconheceria, como antigamente, apenas pela caligrafia o remetente? Fiquei triste ao pensar que não.

Assim sendo, combinei com alguns de meus amigos que comecemos a enviar cartas uns aos outros, assim, só pelo prazer da proximidade escrivinhativa.

Estendo o convite a todos.

Mantra

I'm free, you'll see
I'm me, you'll see



Enquanto o disco novo não sai, vou usando os antigos como fonte de inspiração.

8 de maio de 2010

Associação livre

Inrush

Gyre

Tinha escrito mil interpretações e descrito mil ideias que passaram pela minha cabeça ao ver as obras em papel da artista plástica americana Mia Pearlman.

Apaguei tudo. A riqueza de detalhes e possibilidades de interpretação vêm das obras em si.

Sem mais palavras.

5 de maio de 2010

Fuguita

Talvez um dos motivos pelos quais as pessoas mais gostem de fotografia seja pelo fato de ela oferecer uma rota de escape bastante acessível. A evasão se dá num pulo ao olharmos uma foto.

Descobri recentemente o trabalho de John Zimmerman e achei bastante interessante:


Composições bonitas, jogos de imagens e iluminação levemente dúbia criam efeitos altamente bonitosos e incitantes nas fotografias do moço:


Evasão: essa vontade que dá de ir imediatamente para o lugar que vemos, numa discreta fuga da realidade imediata.

Às vezes é necessário, né?

3 de maio de 2010

Bomba

Milhões de pensamentos na cabeça.

É hora de parar pra pensar e ver o que o futuro reserva.

As mudanças ocorrem tão, mas tão subitamente que às vezes nem nos dão tempo pra pensar.

O que vinha vindo chegou.

Quão maduras as pessoas podem ser, inesperadamente.

Eu espero.

30 de abril de 2010

Olhos

Nada de palavras rykahs, (quase) nenhuma frase de efeito.

Para comemorar o ducentésimo post, nada mais apropriado que uma imagem de pura satisfação estética garantida.


Estou cada vez mais de acordo com Oscar Wilde; o prazer estético é muito, mais muito inspirador.

Joguemo-nos nele.



29 de abril de 2010

Dako é bom

A melhor opção para desestabilizar alguém que quer agredi-lo é não levar a pessoa a sério.

Melhor ainda quando você consegue se divertir com a afronta e, por isso mesmo, desmoraliza a criatura negativa.

Um movimento que começou nos EUA, mas que é baseado na experiência e que vem ganhando força no mundo é a apropriação de nomes pejorativos e conseguinte transformação de insulto para nome comum.

A palavra queer, hoje muito usada na Terra dos Yankees, na Europa e até na Argentina, já foi um termo altamente ofensivo para denominar os gays.

Da mesma forma, eu uso os nomes viado, bicha e cia no cotidiano como forma de não só desmistificar como exorcizar conotações negativas.

E, quando alguém grita 'viado!' para mim na rua, eu apenas aceno. Ok, às vezes também mando beijo.

Até porque a ofensa só existe quando ela é algo negativo para nós mesmos.