31 de março de 2011

V de vergonha

A vergonha-alheia é uma instituição nova nas relações humanas.

Apesar de ter sempre existido, sua recorrência chegou a tamanho ponto que foi criado um termo para designá-la no português brasileiro contemporâneo.

Esse termo foi-me bem útil hoje, tanto semântica como sentimentalmente.

Flagrei minha faxineira, de quem muito gosto e por quem tenho apreço, escondendo um pedaço de chocolate quando eu cheguei perto. Obviamente, eu que tinha comprado a barra de onde o pedaço veio, mas isso não quer dizer, jamais, que só eu poderia disfrutar dele.

Fiquei com tanta vergonha da situação que nem consegui quebrar o clima e reforçar o valor gregário e comunitário que a comida tem para mim. Como jamais esperava que ela não se sentisse à vontade para comer, fiquei embasbacado e calei-me.

O pior é que, se ela agiu assim, é porque muita gente a proibiria de comer.

Fiquei sem lugar.

23 de março de 2011

Vendado



Não adianta fechar os olhos: a realidade força nossas pálpebras.

Esse tapa na cara é bem-vindo porque, se não nos atentarmos ao que se passa conosco e ao nosso redor, a vida já passou.


Por mais coloridas que sejam as nossas vendas, há muito mais cores do lado de fora.


Equilíbrio

Já estava começando o processo de me martirizar mais uma vez pela minha eterna procrastinação - às vezes acredita que é ela que me separa dos grandes sucessos da vida produtiva, quando me lembrei de um fato: se eu fizesse absolutamente tudo o que eu quero ou tenho vontade, não teria mais vida.

É um embate entre aquilo que produzo versus aquilo que poderia criar. De maneira bem difusa, acabo fazendo muitas, muitas coisas. Tenho verdadeiro pânico de me tornar um daqueles que não consegue nunca relaxar, sempre preso pelas responsabilidades.

A culpa me move muito, é verdade, mas, na minha loucura, vou mantendo (alguma) sanidade.

22 de março de 2011

Esculpir



Descascar camadas de repressões e paredes protetivas é um processo de escultura.

A terapia e a reflexão tornam-se o cinzel mais apropriadado para essa empreitada.


Mas a flexibilidade do material é tão variável quanto o quotidiano.


21 de março de 2011

Skrik

Dreams and Belief have gone
Time, Life itself goes on



AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHH


18 de março de 2011

Organize

Cada coisa no seu devido lugar.


Objetos ou sentimentos, tudo há de ser posto (ou devolvido) exatamente ao lugar ao qual pertencem.

16 de março de 2011

Âncora

Divagações são poéticas; sonhos são ricos e a imaginação é fértil.

Quando a mente vai muito longe, a realidade perde.

O freio das elocubrações mentais tem que partir de algo mais diário: o propósito.


Sem tarefas ou funções, a vida fica entregue às fantasias.

E isso raramente é bom.

14 de março de 2011

Mudez

Há muitos anos, praticamente desde que me lembro de ter consciência das minhas ações, puno àqueles que me desagradam mantendo um silêncio absoluto.

Já testei meus limites e o desconfiômetro dessas pessoas em escalas impensáveis. Num caso grave familiar, o silêncio frio durou anos.

A raiz dessa atitude talvez esteja na incapacidade de controlar meus sentimentos negativos e também da noção do poder destrutivo da minha eloquência. De qualquer forma, tendo a privar aqueles que me desapontaram ou desagradaram de qualquer palavra próxima por algum tempo já há bastante tempo.


E funciona? Não sei ao certo, e nem tampouco sei se eles encaram isso como punição ou se ficam aliviados pelo meu silêncio.

Sinceramente, espero que sirva pra algo.





9 de março de 2011

Vertentes

O ócio é uma ferramenta multiuso.

Ele pode ser um convite à produtividade criativa tanto como um incentivo a devaneios contraproducentes.

O limite entre as duas vertentes parece estar na quantidade: quanto maior a à-toice, menos produtiva ela é.

Ou talvez a organização seja o catalisador da ação.

Será que ainda descubro?


8 de março de 2011

Consciência amapoesca

Se o dia de hoje fosse uma comemoração por algum ato específico das mulheres, todos os parabéns que estão rolando por aí seriam bem merecidos.

No entanto, ao contrário do que os parabéns distribuídos sugerem, o dia 08 de março é um dia de conscientização, não do caráter especial das mulheres, mas das discriminações que elas sofrem por vivermos em sociedades majoritariamente patriarcais.

Miranda July: Eleven Heavy Things (2010)

Ser patriarcal também significa que as decisões, mesmo quando tomadas em prol das mulheres, são muitas vezes permeadas por conceitos machistas. Afinal de contas, ninguém sai ileso dos efeitos nefastos do machismo; muito menos elas.

A conscientização é sempre o primeiro passo pra mudança.

7 de março de 2011

Escapismo

Se existisse uma passagem secreta mágica que levasse à terra da não-ressaca, eu entraria nela agora.


Vamos?

1 de março de 2011

Recato

Bem, o carnaval nunca foi minha onda.

Não gosto da(s) música(s), não gosto da bagunça, não gosto de como as pessoas se portam.

E detesto a ideia de que alguém precisa ficar bêbado e "louco" pra extravasar.

O que me deixa na seguinta dúvida:

Seria eu muito liberado (que não preciso disso) ou muito reprimido (que não mo permito)?


A alegria contida me interessa, sempre, muito mais.