30 de julho de 2010

Como detectar terapeutas homofóbicos

TODAS as pessoas que vivem na maior parte das sociedades, mas em especial, nas sociedades machistas de países em desenvolvimento, estão sujeitas a ideias homofóbicas. As visões e concepções predominantes são sempre carregadas de homofobia, pois as mesmas se baseiam em noções heterossexuais de sociedade como se elas fossem a única, ou como se fossem únicas em si mesmas.

Nesse imbroglio inserem-se, naturalmente, os psicoterapeutas. Ainda que munidos do suposto saber que igualiza as sexualidades, muitos desses profissionais são homofóbicos. E sem se dar conta.

Já ouvi de muitos psicanalistas e psicoterapeutas os maiores absurdos a respeito da homossexualidade. (O destaque veio para a incompreensão aguda de uma psicanalista em formação a respeito do travestismo, considerado por ela uma psicose com delírios de automutilação).

Como se assegurar, então, de que se está nas mãos certas? Averiguando através de algumas perguntas. Pergunte ao seu candidato a ou mesmo ao atual terapeuta:

1. Você já trabalhou com muitos homossexuais? Acho neles traços em comum?

Se ele responder em termos de psicopatologia, fuja, pois ele estará dizendo que não só inexistem traços individuais nas pessoas, como também que todos os homossexuais apresentam patologias psíquicas.

2. Qual é a causa da homossexualidade?

Se ele responder que há uma causa, abandone a terapia. A sexualidade em geral não tem causas, mas sim origens. Todas as pesquisas atuais acerca da sexualidade apontam para evidências multifatoriais para toda e qualquer tipo de orientação sexual. Não saber disso implica ignorância ou arrogância. Talvez ambas.

3. A terapia lida com os homossexuais como se eles fossem iguais aos hétero?

Por mais igualitária que seja a pessoa, as duas coisas não são equivalentes. Os homossexuais estão sujeitos a uma carga de pressão psíquica muito diferente daquela dos heterossexuais. Tratar os dois como sendo iguais demonstra que o terapeuta ignora necessidades específicas daquele grupo.

As respostas para essas perguntas serão fortes indicadores do nível de preparação do seu terapeuta para lidar com as questões relacionadas. Pode-se e deve-se trocar de psicoterapeuta caso esse não se mostre apto a tratar de questões importantes para o cliente.

Não se deve nunca aceitar a mediocridade.

Post inspirado pela leitura de A experiência homossexual, de Marina Castañeda.

Um comentário:

Jaime disse...

P.,

I finally got around to reading your lusophone blog (thank you for sending me the link last week). Once again, commendations.

This piece caught my eye, especially because of my current situation. I'm a volunteer working in education and development in Nicaragua, so, I feel I can relate to your comments about "machista societies of the third-world" (also, I was born in Mexico, but grew up mostly in the U.S. and other places). It's not only the "third-world", of course, where these societies exist.

All the difficulties of the experience aside (at least, in relation to my own sexual orientation), I have been trying, for the better part of my life -- at least since university -- to find a good psychologist/psychotherapist to help guide me through this experience.

The truth is that -- like a good man or a good Margarita in Managua -- a good psychotherapist is always hard to find. I've had a few since university, all of them sub-par, and yes, a couple even homophobic.

I will venture into attempting to find one here in Estelí for the year I have left in my service, and I will definitely pose the questions you have suggested in this post.

Thanks for the advice.
-J.

P.S. It's not small wonder that Castañeda's book is sold out; fortunately I managed to sneak an edition in Spanish into my dad's library in his house in Mexico (where I had to hide it from my mom back in the States, hah). Although I'm not Castañeda's biggest fan, I VERY MUCH appreciate this book of hers.