31 de março de 2011

V de vergonha

A vergonha-alheia é uma instituição nova nas relações humanas.

Apesar de ter sempre existido, sua recorrência chegou a tamanho ponto que foi criado um termo para designá-la no português brasileiro contemporâneo.

Esse termo foi-me bem útil hoje, tanto semântica como sentimentalmente.

Flagrei minha faxineira, de quem muito gosto e por quem tenho apreço, escondendo um pedaço de chocolate quando eu cheguei perto. Obviamente, eu que tinha comprado a barra de onde o pedaço veio, mas isso não quer dizer, jamais, que só eu poderia disfrutar dele.

Fiquei com tanta vergonha da situação que nem consegui quebrar o clima e reforçar o valor gregário e comunitário que a comida tem para mim. Como jamais esperava que ela não se sentisse à vontade para comer, fiquei embasbacado e calei-me.

O pior é que, se ela agiu assim, é porque muita gente a proibiria de comer.

Fiquei sem lugar.

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