31 de maio de 2011

Quíntuplo

Cinco cousas que me aconteceram na minha última viagem.

1. Decidimos ir de van do aeroporto à cidade e fiquei desconfiando do motorista. Por um momento, cheguei a pensar que ele fosse nos sequestrar, mas foi alarme falso. O leve azedume surgido devido ao trânsito se esvaneceu ao percebermos que ele fazia uma pergunta gentil a cada passageiro que descia. Exageramos na gorjeta.

2. Ficamos perdidos no metrô. Algumas vezes. Na mais trabalhosa, fomos parar em um lado pouco interessante do Brooklyn e, até descobrirmos que estávamos esperando o trem do lado errado da plataforma, perdeu-se meia hora. Felizmente chegamos ao nosso destino, mas não a tempo de ver o xou mais legal. Resolvemos mentir pra todos que tínhamos visto e amado a apresentação de uma das bandas mais neo-hypadas do momento.

3. Fomos influenciados por vendedores simpáticos e competentes que nos convenceram a levar itens que nem queríamos tanto, baseados na sinceridade deles: ouvimos algumas vezes que determinada coisa não ficava boa em nós. Quando eles achavam que algo nos servia, comprávamos. Influenciáveis?

4. Fui paquerado por um rapaz lindo, atencioso, perspicaz e gentilmente expansivo. Me imaginei largando tudo e indo morar com ele no Harlem, onde levaríamos uma vida com base na arte e em empregos fúteis porém altamente interessantes, como vendedores de chapéu. Não entendi como ele se chamava.

5. Uma briga amical provocada por situações de estresse viagístico nos levou a elocubrações incríveis sobre a teoria das discussões e perdas de paciência. Concluímos que, por mais que se goste e conheça-se os pontos fracos do outro, ainda assim explodimos e machucamos quem gostamos por não conseguirmos segurar nossos próprios impulsos agressivos.


You Would, foto de Miranda July

Quis ter uma vida em Nova York.

30 de maio de 2011

Pólen

O tempo que não tenho usado para escrever aqui não tem sido, de modo algum, improdutivo.

Tenho me alimentado de referências e ideias derivadas, além de nutrir conceitos para um projeto de colaboração artística vindouro.

Pensei agora que a mente é como uma colmeia, cheia de compartimentos nos quais se guarda o mel das ideias. Elas ficam descansando nos seus espaços, sendo amamentadas pelo esforço intelectual ou trabalho braçal, dependendo da inspiração de cada um.

Escultura de John Chamberlain

A arte nunca me falha.


16 de maio de 2011

Calma

O silêncio é a minha maior arma de cura mental.

Há anos que recorro ao não-falar como maneira de organizar e harmonizar os pensamentos.

Permanecer em silêncio tornou-se uma árdua tarefa, devido à dificuldade de não-comunicação via internet também.

Tanta besteira se diz que até o engraçado perde o humor. Palavras que excedem aborrecem na mesma escala.


O paraíso.

10 de maio de 2011

Física

Desde o Big Bang, tudo no universo é um grande processo de recombinação e recriação.

Quem acredita que no mundo das artes seja diferente é ou desinteressado ou inocente. A grande pegada da criação artística são justamente os diálogos intra- e transexpressivos. Um tipo de arte bebe não apenas na sua própria fonte como em fontes diversas das demais expressões.

É neste lugar que entram os clássicos da literatura.

Imagens e ideias literárias têm força incomensurável, pois passam dos livros para os imaginários dos leitores, os quais o transmitem adiante desvinculando-as da sua fonte original até serem recapturadas por uma nova sensibilidade. Tudo se recicla.

por León Ferrari

Leiamos?
Criemos.

9 de maio de 2011

Audição

Pude comprovar recentemente que a minha luta pela escuta tem raízes ainda mais profundas do que eu imaginava.

É impressionante como estar cercado de pessoas incapazes ou que relutam em escutar o que os outros têm a dizer.

Talvez por já ter sido exposto a esse mal desde cedo, desenvolvi os anticorpos que me protegem de pessoas assim quando as encontro por aí.

E mais, isso me fez querer me esforçar além dos meus limites para poder, eu mesmo, não perpetrar um vício tão egocêntrico.

Relation (Riita Päiväläinen, 2001)

Tão incrível como desgastante é perceber que podemos conviver por anos sem nunca dialogarmos de verdade.

3 de maio de 2011

Caindo e aprendendo

À medida que os anos passam, minha tolerância se expande; em todas as dimensões.

Não que eu acredite que eu jamais chegue a níveis búdicos ou jesúsicos, ou mesmo que eu tenha me tornado um guia - a verdade era que minha intolerância atingia proporções gigantescas.

Cousas que antes me irritavam, agora me deixam curioso.

Pessoas que antes me enervavam, agora me fazem rir.

Burrices que antes me enfureciam, agora me dão compaixão.

por Stephan Balkenhol


Um exemplo para a humanidade? Uma inspiração para os irascíveis?

Não, apenas alguém que já quebrou a cara inúmeras vezes.